Vida de Defensor Público: Renan Nóbrega e a vocação de promover dignidade aos assistidos

Natural de Monteiro, no interior da Paraíba, Renan Nóbrega de Queiroz cresceu inspirado pela força e coragem da mãe, que, aos 30 anos, recomeçou a vida após um divórcio. Ela ingressou no curso de Direito e conquistou uma vaga de Analista Judiciário Federal,  exemplo que despertou no filho o desejo de transformar vidas por meio da Justiça. Aos 17, Renan iniciou a faculdade; aos 21, já era bacharel. Passou pela advocacia, pelo Tribunal de Justiça da Paraíba e pelo Ministério Público de São Paulo, até encontrar sua verdadeira vocação na Defensoria Pública. “Ajudar ao próximo faz bem à alma, e como Defensor, posso fazer isso todos os dias”, afirma.

Sua chegada à Defensoria Pública do Estado do Amazonas foi marcada por entusiasmo e desafios reais. Logo após o curso de formação, foi designado para uma jurisdição na cidade de Fonte Boa. A jornada, de voo até Tefé, seguida de cinco horas de barco durante a noite, foi sua primeira imersão no que significa atuar em um estado de proporções continentais. “Encontrei uma cidade pequena, quase sem estrutura, mas com pessoas maravilhosas. Ali percebi que ser Defensor no Amazonas exige muito mais que técnica. Exige presença, escuta e entrega”, relembra.

Sua primeira titularidade foi no Polo de Benjamin Constant, na tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru. A realidade local, marcada pela diversidade cultural e pela forte presença de comunidades indígenas, impôs novos aprendizados. “Cada atendimento exigia sensibilidade, respeito aos tempos e modos de vida diferentes. Atuar ali era ser ponte entre mundos distintos, dialogando com outras línguas e culturas para garantir um atendimento verdadeiramente inclusivo”, destaca. Foi também nesse contexto que Renan aprofundou seu entendimento sobre o papel da Defensoria como instrumento de acolhimento e acesso à cidadania.

Entre os casos marcantes de sua trajetória, ele cita a regularização de um registro civil para um cidadão com mais de 60 anos, que jamais teve documentos. “Era uma pessoa que não existia para o Estado. Conseguimos garantir seu nome, sua identidade e, com isso, abrir as portas para o acesso a direitos básicos. Isso é Defensoria Pública: transformar invisibilidade em dignidade”, relata. Em outra experiência emblemática, participou de uma inspeção a um lixão irregular no lado peruano da fronteira, onde constatou graves violações socioambientais. O caso ganhou repercussão nacional, com entrevista concedida ao Jornal Nacional, e reforçou sua atuação no campo da justiça climática.

Renan acredita que a Defensoria Pública tem uma missão que vai além do Judiciário. Para ele, a Instituição é essencial na promoção da justiça social, da educação em direitos e da escuta ativa das comunidades mais vulneráveis. “A Defensoria é a ponte entre quem não tem voz e os espaços de poder. É quem garante que os mais afetados pelas desigualdades e pelas mudanças climáticas possam ser ouvidos e protegidos”, afirma. Para o futuro, defende uma Defensoria mais estruturada, com presença efetiva nos territórios e cada vez mais próxima da realidade das pessoas.

Ao refletir sobre sua própria trajetória, deixa um recado sincero para as novas gerações que sonham em seguir esse caminho: “Venham com coragem e com o coração aberto. Ser Defensor Público é sair do gabinete, sentir a realidade do povo e ter a chance de fazer a diferença todos os dias.”

Deixe um comentário