A pandemia e as festas de fim de ano: o que aprendemos com dezembro de 2020?

Ômicron: a nova ameaça da pandemia fez com que 38 países voltassem a impor rigor nas medidas de restrição à Covid-19, neste final de 2021. Ao menos 24 capitais do Brasil não terão festa de réveillon por também temer a capacidade de contaminação da nova variante.


No dia 4, o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), anunciou o cancelamento da festa de ano novo para evitar aglomeração e contaminação. O prefeito disse, ainda, avaliar restrições drásticas para não vacinados.


Dia 8 de dezembro, a FVS (Fundação de Vigilância em Saúde) emitiu alerta sobre aceleração de infecção de covid-19 no Amazonas nos últimos 14 dias, o que mudou a faixa de risco da doença no estado da fase amarela (baixo risco) para uma proximidade da fase laranja (risco moderado). A transmissibilidade do covid-19 aumentou entre novembro e dezembro. O cálculo é realizado com base na evolução da pandemia e a capacidade do sistema de saúde do Amazonas.


A notícia da variante Ômicron chega a Manaus ativando um gatilho.Há exatamente um ano, a cidade viveu a segunda aceleração de infecção da doença que lotou rapidamente leitos clínicos e de UTI das redes pública e privada de saúde.

Houve uma divisão entre os organismos técnicos e científicos e aqueles que se apresentavam como defensores da economia e do emprego: Manaus não podia parar.


O que ninguém sabia era que em dezembro já circulava em Manaus a variante gama.


Depois da explosão de contaminação das festas de Natal e Ano Novo, no primeiro trimestre de 2021, foram 6.600 mortes no Amazonas, um dos índices per capita mais elevados do mundo, além das mortes por desassistência em casa e asfixia por falta de oxigênio dentro dos hospitais.


Neste episódio, a produção do Exclusiva separou áudios da cobertura daquele dezembro dramático e entrevista o epidemiologista da Fiocruz Jesem Orellana e o defensor público e coordenador do Núcleo de Atenção à Saúde, Arlindo Gonçalves.


Os dois entrevistados destacam que antes e agora os principais problemas do Amazonas continuam sendo a crônica desestrutura e falhas do sistema de saúde e a falta de vigilância epidemiológica e laboratorial. Além do completo desrespeito e falta de fiscalização aos protocolos necessários numa pandemia.


“A grande diferença é que, eu diria que 70% ou 80%, no caso do Amazonas, do total da população ou já foi exposta à infecção natural ou foi vacinada com uma das vacinas da covid-19. Isso está segurando os índices da covid-19 no Amazonas. O que não sabemos é até quando essa proteção conferida pelas vacinas vai conseguir segurar a epidemia e se a variante consegue burlar essa proteção”, declarou Jesem Orellana.


Uma outra característica crônica nesta pandemia é o negacionismo que se apresenta entre ações institucionais e comportamento da sociedade no estado, em que pese o sistema de saúde do Estado ter colapsado duas vezes em oito meses causando desespero, milhares de mortes, sequelas e traumas.


Os erros se repetem: no Amazonas, as pessoas continuam sendo incentivas a, equivocadamente, pensar que a pandemia acabou. Exato problema que levou à terrível 2ª onda em dezembro de 2020.

“Pessoas estão aglomerando cada vez mais acreditando que vacina faz milagre. Vacina nenhuma de doença nenhuma faz milagres. São conjuntos de medidas farmacológicas e não farmacológicas como uso de máscaras, manter distanciamento físico e higiene das mãos, que vão garantir o controle da epidemia. (…) Nós chocamos a humanidade duas vezes seguidas e agora estamos diante de uma epidemia com decisões que podem custar muito caro ao estado do Amazonas” (Jesem Orellana)

“A pandemia ainda não passou. Não há que se falar em grandes eventos em momentos de pandemia. Esse é o básico. Não é o momento. A mensagem que os líderes estão passando. Passa uma mensagem de otimismo perigoso e nós já vivemos isso, notadamente, no ano passado. (…) Ainda que se considerasse como viabilidade técnica teórica, ficou bem claro (com o show do Gustavo Lima) que, na prática, isso é inviável. Nós argumentamos sob ponto de vista da economia. Se nós evitarmos grandes aglomerações talvez nós possamos viver o mais próximo da normalidade. Evitar o quase lockdown e fechar todo comércio” (Arlindo Gonçalves)

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