Determinação, resiliência e paixão pela justiça marcam a trajetória da Defensora Pública Rachel Marinho, personagem desta semana do quadro Vida de Defensora Pública, promovido pela Associação das Defensoras Públicas e Defensores Públicos do Amazonas (Adepam). Os desafios e superações ilustram a essência do compromisso com a defesa dos direitos dos mais vulneráveis.
Rachel é formada pela Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) e é especialista em Direitos Humanos pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Filha de uma técnica de enfermagem que faleceu repentinamente no final de sua graduação em Direito, Rachel teve que adiar o início de seus estudos para concursos e se virar como podia. Durante esse período, conciliou trabalhos como babá e costureira com os estudos.
Rachel iniciou a carreira com uma breve experiência na advocacia. Enfrentou dificuldades em estabelecer uma clientela, o que a levou a diversificar suas ocupações. As experiências, longe de sua formação jurídica, moldaram sua resiliência e capacidade de adaptação.
Sua jornada no Direito começou a ganhar forma mais concreta quando foi residente jurídico no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (RN). No entanto, as limitações financeiras a obrigavam a escolher cuidadosamente quais provas realizar, pois não podia se dar ao luxo de fazer todas.
Determinada a seguir na carreira de Defensora Pública, Rachel estudou intensamente por três anos e meio. Foi aluna do curso popular de formação para Defensoras e Defensores Públicos de São Paulo, idealizado por Giancarlo Silkunas e Thiago Pagliuca. Esta formação foi determinante para sua preparação e inspiração.
Durante a faculdade, estagiou na Defensoria Pública da União, sob a orientação de profissionais como Dr. Daniel Teles, Dra. Lídia Ribeiro e Dr. Edilson Santana. Além disso, foi aluna de Filippe Augusto, Defensor Público Federal. Estes mentores foram fundamentais para sua decisão de seguir na Defensoria Pública.
Rachel relembra com especial carinho um momento marcante de sua carreira: ao atuar em uma ação civil pública, conseguiu uma decisão para restabelecer a energia elétrica em cinco comunidades ribeirinhas que estavam sem luz há quase cinco meses devido a um acidente natural. Esta vitória é um testemunho de seu compromisso com a justiça e com as necessidades das comunidades vulneráveis.
Os principais desafios na Defensoria, segundo Rachel, envolvem a responsabilidade pelas vidas das pessoas que atendem. Trabalhar com populações vulneráveis no Amazonas apresenta peculiaridades, como as grandes distâncias entre cidades e comunidades ribeirinhas e indígenas. Ela lembra de um atendimento especial a um casal indígena que não falava português, onde passou uma tarde inteira, com apoio de outros indígenas, para convencer os pais a levar seu filho recém-nascido a um hospital por meio de uma UTI aérea.
Rachel almeja uma realização profissional que combine proximidade com o povo e a diversidade de casos que a Defensoria Pública oferece. Ela acredita na importância de uma instituição com assento constitucional relativamente nova que necessita de mais estrutura e incentivo dos poderes públicos.
Para os jovens que desejam seguir carreira na Defensoria Pública, Rachel aconselha: “Vale muito a pena a carreira. Apesar dos desafios, é muito gratificante! Estudem bastante, não desistam e foquem no estudo específico para defensorias, que têm um conteúdo mais crítico e diferenciado. A aprovação certamente virá, para alguns mais cedo do que para outros, dependendo de vários fatores, incluindo oportunidades, etnia e desigualdade social. Mas é possível com esforço e dedicação.”