Thatiana Borges, desde os primeiros anos da graduação, teve a certeza de que ‘lutaria’ pela justiça social.
De origem humilde, sem nenhum profissional do Direito na família em que pudesse se espelhar, Thatiana David Borges, encontrou no mundo jurídico as oportunidades para superar a própria falta de recursos financeiros e a chance de fazer a diferença em mundo tão desigual.
A paulistana de nascimento tem fortes raízes nordestinas. “Nasci na cidade de São Paulo, mas vivi a infância e a adolescência no Estado da Bahia (a terra dos meus pais), por isso me considero uma baiana de coração”, declarou.
A vocação surgiu por acaso na defesa de um trabalho escolar, que foi determinante para que investisse na área de humanas e nem cogitasse o campo de exatas (universo com o qual nunca teve afinidades). ”No ensino médio, a professora de Sociologia nos desafiou a defender, na condição de advogada, ou o sistema capitalista ou o sistema socialista. Eu me dediquei muito. Quanto mais ensaiava, mais empolgada ficava. Não ganhei o debate, mas defini aí minha profissão”, rememorou.
Retornou à Terra da Garoa com o firme propósito de tirar o projeto do plano do imaginário e de concretizá-lo com a força de quem sabe que a superação dependia única e exclusivamente dela. “Em São Paulo, cursei Direito e exerci a advocacia pública por quase 9 anos, na Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente). Desde o primeiro ano na faculdade, estabeleci como meta e projeto de vida ser defensora pública”, afirmou com convicção.
Ainda na faculdade se deu conta da assustadora desigualdade social e de que as conseqüências impactavam diretamente no futuro das pessoas que a cercavam. “Um colega afrodescendente, bem humilde, todos os dias sacava seu caderno de anotações de dentro de uma embalagem de arroz de 5kg. Olhava para aquela situação, com o coração partido, imaginando o que ele passava diariamente para estar ali na sala de aula. Felizmente, eu e ele pudemos comemorar a obtenção do diploma de bacharel em Direito, mas nem todos tiveram o mesmo privilégio, já que a mensalidade era expressiva e muitos não conseguiram pagar”, falou penalizada. “Eu mesma só consegui concluir o curso porque era bolsista. Prestava serviço na faculdade no período noturno e, no vespertino, fazia um estágio em um escritório de advocacia”, relatou
Quando soube da aprovação no concurso da Defensoria Pública do Amazonas, Thatiana celebrou a realização de um projeto de vida. “Não canso de agradecer a Deus pela aprovação no concurso. Eu sei que a realidade do povo amazonense, principalmente do interior, é de extrema vulnerabilidade e sei que a nossa missão como Defensora e Defensor Público exige de nós um olhar atento e estratégico para tentar reduzir as desigualdades materiais dos assistidos. A ADEPAM é também um importe instrumento que poderá agregar o trabalho Defensorial, de modo a fortalecer nossos pleitos junto aos diversos órgãos que compõem outras esferas de poder”, pontuou.