
A trajetória da Defensora Pública Regina Simões se confunde com a própria história da Defensoria Pública do Estado do Amazonas. Com 74 anos de idade e 48 de formada em Direito, Regina é uma das pioneiras na luta por acesso à justiça para a população mais vulnerável. Seu compromisso com a causa vem de longe, antes mesmo da criação oficial da instituição que hoje representa.
Em 1976, ainda como consultora técnica do gabinete do então governador Henoch Reis, ela já atuava no atendimento à população carente. Quando o Departamento de Assistência Judiciária foi criado na Secretaria de Justiça, este departamento foi o embrião da Defensoria.
“Na época, falava-se em montar um escritório jurídico para atender os necessitados. Ainda não era uma Defensoria, mas a semente estava plantada”, relembra.
Naquele tempo, não havia divisão por áreas: Regina atuava em casos da justiça cível, família, infância, consumidor, justiça do trabalho, juizados, até mesmo em ações de invasão de terra. “Fazíamos de tudo, com poucos recursos. Usávamos máquina de escrever e tínhamos apenas quatro datilógrafas para transcrever tudo que era feito à mão.”
A chegada da Constituição de 1988 consolidou a Defensoria Pública como função essencial à Justiça. Aos advogados de ofício foi oferecida a possibilidade de se tornar Defensores Públicos ou seguir na carreira advocatícia com liberdade para atuar no setor privado. “Eu não hesitei. Sempre gostei do que faço e nunca tive interesse em advogar particular. Escolhi ser Defensora Pública, com dedicação exclusiva.”
Ao longo de sua carreira, Regina enfrentou de perto os desafios sociais mais complexos da população amazonense. Participou ativamente de audiências em abrigos, viu de perto o sofrimento de crianças em situações de abandono, maternidades superlotadas e famílias fragilizadas. “Gosto de estar presente nas audiências. Gosto do contato direto, de olhar nos olhos das pessoas. Por isso prefiro audiências presenciais às virtuais — nelas, a gente vê a verdade no rosto.”
Ela se emociona ao lembrar de casos marcantes e não hesita em criticar o sistema que, muitas vezes, aprisiona famílias na pobreza. “Ajudas sociais são importantes, mas precisam ser temporárias. Quando viram modo de vida, tiram a perspectiva de futuro. O país precisa fiscalizar melhor.”
Mesmo às vésperas da aposentadoria por excesso de tempo de serviço, a Defensora não esconde a vontade de seguir contribuindo. “Gostaria de continuar como voluntária. Amo o que faço. Amo estar com os assistidos, com os colegas, com os jovens da nova geração. Eles me dão energia.”
Regina Simões é, antes de tudo, um símbolo de dedicação, resiliência e amor ao próximo. Sua trajetória é uma inspiração para quem acredita em um sistema de Justiça mais humano, acessível e próximo de quem mais precisa.